Pesquisadores brasileiros poderão publicar sem pagar em revistas da Elsevier, Springer Nature e ACM

Foto: Folhapress

A partir de 2026, pesquisadores ligados a 452 instituições no Brasil terão a oportunidade de acessar gratuitamente periódicos da Elsevier e da Springer Nature. Isso significa que eles poderão ler as publicações dessas editoras, que estão entre as mais renomadas globalmente, e também submeter artigos científicos em formatos híbridos ou de acesso aberto. A ACM (Association for the Computing Machinery) oferecerá condições similares a partir deste mês.

Esses benefícios resultam de acordos transformativos (TA, pela sigla em inglês) firmados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão vinculado ao MEC (Ministério da Educação). A formalização desses acordos ocorreu no dia 4 de janeiro, durante uma cerimônia que celebrou os 25 anos do Portal de Periódicos da Capes.

Os acordos com a Elsevier, a maior editora científica do mundo, e com a Springer Nature, responsável pela publicação dos periódicos do grupo Nature, começarão a valer em 1º de janeiro de 2026. O acordo com a ACM já está ativo. Ao todo, esses contratos têm um valor estimado em US$ 215 milhões (equivalente a R$ 1 bilhão) para o período de três anos.

Atualmente, brasileiros que desejam ver seus artigos publicados em revistas de acesso aberto da Elsevier e da Springer Nature precisam arcar com os chamados APCs (custos de processamento de artigo), cujos valores podem variar de algumas centenas a quase US$ 13 mil (R$ 70 mil) no portfólio da Nature.

Esses custos, conforme declarado pelas editoras, são destinados a cobrir as despesas com a editoração e a formatação dos artigos. O processo de revisão e editoração não é pago, sendo realizado por acadêmicos convidados.

O custo total para a Capes será de US$ 153 milhões (R$ 823,6 milhões) com a Elsevier, US$ 59,8 milhões (R$ 322 milhões) com a Springer Nature e US$ 2,4 milhões (R$ 13,2 milhões) com a ACM — esses valores foram considerados com base nas cotações em diferentes períodos.

No que se refere à Springer Nature, o contrato abrange periódicos de modelo híbrido, ou seja, que exigem assinatura para leitura ou que estão em processo de se tornarem totalmente abertos. Segundo a editora, essa parceria possibilitará o acesso e a publicação gratuita de mais de 6.000 artigos por ano.

A Elsevier, por sua vez, disponibiliza aproximadamente 8.000 artigos com acesso aberto que estarão acessíveis aos pesquisadores brasileiros. A publicação sem custos será válida para cerca de 160 revistas dessa editora.

O acordo com a ACM garante a publicação e o acesso aberto a todas as suas revistas.

A Springer Nature declarou, em nota à Folha, que busca oferecer “acesso igualitário ao conteúdo e à publicação” e que as vantagens do acordo incluem fornecer “melhor suporte aos pesquisadores brasileiros afiliados [às instituições participantes] na realização desses benefícios”.

Procurada, a Elsevier afirmou, através de um porta-voz, que “tem o prazer de apoiar a publicação de pesquisa de acesso aberto no Brasil” e que “mais de 1.800 revistas estão incluídas no acordo, que irá vigorar por três anos, de 2026 a 2028”.

Esses acordos beneficiarão as instituições de pesquisa e ensino superior que fazem parte do Portal de Periódicos da Capes, totalizando 452 instituições. O serviço anualmente paga pelas editoras o acesso às publicações científicas nas universidades. Com a formalização desses acordos, espera-se fomentar a publicação nessas revistas, o que deve reduzir os custos que eram anteriormente cobrados tanto para a publicação quanto para o acesso às leituras.

Em nota, a Capes mencionou que “os acordos transformativos têm ampliado o número de publicações em algumas editoras, resultando em um aumento da participação da comunidade científica brasileira na literatura científica internacional”.

Abel Packer, diretor do portal de periódicos científicos SciELO, observou que a implementação de acordos transformativos resulta da crescente demanda de algumas agências financiadoras para que as pesquisas sejam publicadas em acesso aberto.

“Quando a Capes assina um acordo transformativo, ela está fazendo isso com base em periódicos que já eram assinados. Se um periódico que antes era fechado se torna acessível e está incluído no acordo, o pesquisador não precisará pagar os APCs, o que representa uma vantagem para o Brasil”, afirmou Packer.

Na Europa, a taxa de publicação em acesso aberto já se aproxima de 80% a 85% do total de artigos, enquanto, segundo dados da plataforma Scopus, no Brasil, 50% dos artigos científicos foram publicados em formatos de acesso aberto ou híbrido até este ano.

“Essa mudança deverá aumentar a pesquisa em acesso aberto no Brasil. Porém, vale lembrar que o país foi um dos pioneiros nesse conceito com o SciELO. Essa mesma política deveria ser aplicada aos periódicos de qualidade brasileiros, pois alguém deve financiar as publicações, e os custos são até dez vezes menores”, finalizou Packer.

A Capes destacou que “a expansão de acordos com outras editoras depende de critérios técnicos, orçamentários e de interesse estratégico”.


Descubra mais sobre O Vianense

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Não encontrou o que procura? Nós facilitamos para você. Digite o termo que deseja encontrar e clique na lupa. 🔍