Os educadores no Brasil sentem-se desvalorizados, desrespeitados e desmotivados. Esse sentimento é amplamente compartilhado e ficou claro na recente Pesquisa Internacional sobre Ensino e Aprendizagem (Talis), divulgada pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
A OCDE, que reúne países desenvolvidos e em desenvolvimento, embora não inclua o Brasil como membro, coletou dados de 280 mil professores e diretores de 17 mil escolas em 55 sistemas de ensino ao redor do mundo para entender a realidade dos educadores. A pesquisa de 2024 revelou respostas desanimadoras sobre a situação dos docentes brasileiros, especialmente quando comparadas às médias dos países da OCDE.
Os dados revelam que apenas 14% dos professores brasileiros se sentem valorizados pela sociedade, em comparação com 22% da média da OCDE. Além disso, somente 53,5% consideram-se valorizados pelas famílias dos alunos, um número significativamente menor do que a média de 65,4% da organização.
Outro ponto preocupante é que os docentes relataram gastar cerca de 21% do tempo em sala de aula apenas para manter a disciplina, enquanto a média na OCDE é de 15%. Essa situação resulta em menos tempo disponível para trabalhar conteúdos essenciais à educação e à aprendizagem.
Em suma, os professores no Brasil expressam um profundo sentimento de desvalorização e desprezo por sua atuação profissional.
Essa desconsideração é refletida também nas relações trabalhistas. De acordo com a pesquisa, apenas 64% dos professores possuem contratos permanentes, bem abaixo da média de 81% da OCDE. Isso significa que 36% estão em posições temporárias ou de substituição. É inviável pensar em uma educação sólida sem um compromisso a longo prazo. Como aponta o relatório da Talis, a maioria dos docentes busca segurança no emprego, tecnologias que não se concretizam por conta do grande número de contratos temporários que geram insegurança e afetam o desempenho profissional.
Consequentemente, essa realidade tem um forte impacto sobre a qualidade da educação. O relatório enfatiza que sistemas educacionais bem-sucedidos contam com professores que se sentem valorizados, o que definitivamente não é o caso no Brasil. Nações como Cingapura, por exemplo, onde 71% dos professores se sentem reconhecidos, lideram o ranking do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), enquanto o Brasil permanece nas últimas posições, apresentando resultados alarmantes em leitura, Matemática e Ciências.
Além de impactar os indicadores de qualidade, o reconhecimento do trabalho docente pode tornar a profissão mais atrativa para novos candidatos. O prestígio social da docência atrai talentos qualificados e ajuda a reter educadores experientes. O desprestígio enfrentado pelos professores no Brasil contribui para a baixa atração pela carreira docente.
Desvalorizados pelo Estado e, muitas vezes, pelos próprios familiares dos estudantes, desrespeitados em sala de aula e em situação de vínculos precários, os professores brasileiros expressaram suas frustrações na pesquisa da OCDE. Este diagnóstico é alarmante e ressalta o quão distante o Brasil está em relação aos padrões de educação básica dos países desenvolvidos — um objetivo que o País almeja alcançar.
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