
Entre a Caatinga e o Cerrado, que engloba os estados do Maranhão, Piauí, Tocantins e Pará, residem as mulheres quebradeiras de coco babaçu. Elas formam um grupo de mais de 300 mil trabalhadoras rurais que dependem do extrativismo desta valiosa palmeira brasileira.
Nesse cenário, a startup Apoena, uma bioindústria fundada em 2022 no Maranhão, está promovendo uma mudança significativa. Seu trabalho está ajudando a reinventar a história do coco babaçu, além de transformar a vida das mulheres que dependem dele.
O que antes era um fruto pouco valorizado, cuja amêndoa era extraída mediante um trabalho árduo e mal remunerado, agora se tornou a base para mais de oito produtos de alto valor agregado. Essa transformação está alterando os paradigmas econômicos, sociais e ambientais da região.
A visão de Márcia Werle, CEO e fundadora da Apoena, foi fundamental para essa mudança. “Participando de um evento sobre sociobiodiversidade amazônica, escutei relatos sobre a situação de mais de 300 mil mulheres vivendo em vulnerabilidade social na cadeia do babaçu. A partir da minha experiência, enxerguei uma oportunidade para criar um modelo de negócio que pudesse escalar a cadeia do coco, gerar renda, preservar a floresta e promover inclusão”, revela.

Esse insight deu início a uma jornada que une ciência, inovação e um impacto social profundo. O coração dessa transformação funciona em Coroatá (MA), onde a Apoena estabeleceu sua unidade industrial. Notavelmente, a inovação pode estar não apenas no produto final, mas na forma como o processo é realizado.
A startup desenvolveu uma máquina para quebrar e descascar o coco babaçu, uma tecnologia simples, porém revolucionária, que está mudando a dinâmica do trabalho das mulheres extrativistas.
Elas, que anteriormente eram conhecidas como “quebradeiras de coco”, um termo que destaca o trabalho físico extenuante, agora se autodenominam “catadoras de babaçu.” Esta nova nomenclatura ilustra uma transformação real na sua realidade de trabalho.
A jornada extenuante, que apresentava riscos à saúde, deu espaço a uma operação mais segura e eficiente. Esse aprimoramento resultou em um aumento significativo na geração de renda, valorizando o conhecimento tradicional dessas mulheres e inserindo-as em uma cadeia produtiva justa e formal.
Atualmente, a Apoena gera mais de 10 empregos diretos e cerca de 30 indiretos, abrangendo fábricas, logística, campo e comunidades. A localização da fábrica em uma área de baixo IDH intensifica o impacto econômico: cada emprego gerado representa um ciclo positivo de desenvolvimento local, aumento de arrecadação de impostos e novas oportunidades de crescimento para a cidade em harmonia com a floresta.
“Nosso impacto social se inicia na base da cadeia, que também é a nossa maior inovação: a inclusão das mulheres quebradeiras de coco no modelo de mercado. Elas são as verdadeiras guardiãs dos babaçuais e estão me ensinando diariamente sobre a importância do território, da floresta e dos saberes tradicionais”, enfatiza Márcia, que atualmente conta com mais de 25 famílias parceiras diretas da Apoena e e planeja alcançar 80 até 2026.
100% de Aproveitamento: Do Óleo Cosmético ao Biocombustível
O modelo sustentável da Apoena é um exemplo claro da aplicação da economia circular na sociobiodiversidade. A empresa adota um sistema de industrialização do fruto que se propõe a não desperdiçar nada. O coco babaçu, antes explorado de forma desordenada, é fracionado em seus diferentes componentes: epicarpo, mesocarpo, endocarpo e amêndoa, cada um visando um produto final específico.
“Busco transformar o mercado através da industrialização integral do babaçu, aproveitando cada parte do fruto para gerar produtos de alto valor agregado”, afirma Márcia Werle.
O portfólio da Apoena é um reflexo dessa diversificação:
- Óleo de babaçu para as indústrias alimentícia e cosmética;
- Óleo corporal Toque da Floresta;
- Bebidas naturais Aroma da Floresta e Aroma do Campo;
- Suplemento alimentar para animais;
- Bioativo ABA, utilizado na produção de diesel verde.
A inovação da Apoena não para por aí. A empresa está atualmente validando industrialmente o carvão ativado e o biofertilizante, completando assim o ciclo de aproveitamento total. “Talvez a maior transformação que estamos realizando seja de ordem cultural: tiramos o babaçu da invisibilidade e o posicionamos como um ativo estratégico da bioeconomia brasileira”, destaca a CEO.
Sebrae: O Parceiro Estratégico no Fortalecimento da Bioeconomia
O crescimento e consolidação da Apoena não teria sido possível sem o suporte fundamental do Sebrae. “Desde o início, recebi suporte do Sebrae em capacitações, mentorias e programas de inovação, como Inova Amazônia e Inova Cerrado, que foram essenciais para estruturar o modelo de negócio e melhorar a gestão”, afirma Márcia.
Esse suporte não se limitou à estruturação interna. O Sebrae também atuou como uma ponte para o mundo, facilitando a participação da Apoena em rodadas de negócios, feiras e missões técnicas que abriram novas oportunidades de mercado.
Recentemente, a ajuda foi decisiva para levar os produtos da Apoena à COP30, ampliando a visibilidade da marca no cenário global da bioeconomia. Além disso, a startup pôde participar do Web Summit Lisboa, um passo crucial para a internacionalização e para promover a bioeconomia brasileira no mundo.
Sem dúvida, o Sebrae tem sido um parceiro essencial na profissionalização da gestão, no fortalecimento da marca e na conexão com o ecossistema nacional e internacional de inovação sustentável”, afirma a fundadora.
O Futuro é Verde e Inclusivo: Expansão e Consolidação de um Legado
Os planos futuros da Apoena são tão ousados quanto a visão que deu origem à empresa. A meta é se estabelecer como referência em bioeconomia amazônica, ampliando a capacidade industrial e levando seus produtos a todo o Brasil e além.
“Estou em busca de investimento para consolidar nossa sede em Coroatá (MA), adaptando-a aos padrões nacionais e internacionais”, revela Márcia.
Um dos projetos mais ambiciosos em andamento é a construção de uma nova unidade em Alto Paraguai, no Mato Grosso, com previsão para iniciar suas operações no segundo semestre de 2026. Esta nova fábrica estará voltada para a produção do bioativo ABA, biofertilizantes e suplementos para ração animal, priorizando o agronegócio regenerativo.
Assim, o ciclo se completa: uma floresta vibrante, um fruto valorizado, mulheres empoderadas e uma indústria inovadora mostram que o desenvolvimento social e econômico pode coexistir com a preservação ambiental. A Apoena, com seu modelo de negócio, não está apenas comercializando produtos do babaçu, mas oferecendo uma nova promessa para a região. “Da floresta nasce o futuro”, conclui Márcia.
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